O Fundo de Ação Urgente para a América Latina e o Caribe (FAU-LAC) apoia organizações e/ou coletivos liderados por mulheres e pessoas dissidentes sexuais e de gênero, a partir da proximidade e da escuta ativa. Cada contexto e cada território possui suas peculiaridades; por isso, é vital criar espaços de reunião que nos permitam reconhecer os movimentos feministas a partir dos seus lugares e identidades.
Desde 2023 imaginamos os AcorpaFAU, espaços presenciais que nos permitem abraçar, acorpar e conhecer mais quem está em resistência e luta por mundos mais justos e sustentáveis. Em 2024, decidimos ir para Córdoba, Argentina, um país que agora enfrenta um governo autoritário e antidireitos.
Com os AcorpaFAU, tentamos identificar como estão os ativismos internamente e como estão suas relações externas, porque o afeto é político, não é um assunto individual. Nos momentos de crise, estes espaços se tornam muito mais necessários. São espaços de escuta sem julgamento, preparados para que as emoções saiam.
Nos dias 30, 31 de agosto e 1 de setembro de 2024 tivemos a oportunidade de nos reconhecermos com organizações e coletivas feministas do Sul da nossa região. Esta versão dos AcorpaFAU foi desenvolvida na época da ascensão do governo de ultradireita de Javier Milei. Ele implementa políticas regressivas em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais e à agenda transfeminista. Ativistas de diferentes idades, origens, lutas e identidades participaram.
Para o FAU-LAC era crucial fazer este encontro, enquanto os discursos de ódio e os ataques ao ativismo feminista e transfeminista territorial aumentavam. "Porque vocês na Argentina provocaram marés e terremotos e foram inspiração para o ativismo na região. Queremos honrar esta inspiração porque lhes sentimos companheiras, queremos acompanhá-las e queremos que assim nos vejam. Queremos criar as condições para fortalecer o que fazem. Este momento complexo exige que nos juntemos, passar as crises exige que pensemos juntes, que sintamos. Acreditamos que é a partir dos afetos que podemos continuar. E também acreditamos que é muito importante ter um espaço para o descanso e para o prazer”.
Durante o encontro, construímos coletivamente um registro de como vemos o contexto atual. Ele foi descrito como distópico, desestabilizador e emergencial. Um contexto marcado pela crise econômica, a pobreza e a vulnerabilidade, e um governo que tira o Estado do seu lugar de cuidado e garantia de direitos. No encontro foi salientado que as instituições estão expostas a muita fragilidade, enquanto se delega poderes a um governo agressivo e violento.
Neste contexto de criminalização do protesto social, a liberdade de expressão e a participação política estão em jogo. Enquanto os direitos sexuais e reprodutivos (DSR) são ameaçados, os espaços sagrados para as comunidades são destruídos, o ambiente é violentado e os espaços nacionais são eliminados. Além disso, os discursos de ódio e os ataques de violência se multiplicam.
Neste espaço cheio de experiências, risos e feridas compartilhadas, também nos enchemos de esperança ao lembrar que nossas estratégias, nossas redes e alianças nos sustentam nos ativismos. Além disso, existem processos históricos que nos fizeram sobreviver e criar mundos mais habitáveis, espaços seguros para nossas identidades e lutas.
No FAU-LAC ressaltamos a satisfação e emoção pelo que foi possível entre quem se fez presente. Terminamos o AcorpaFAU com um profundo agradecimento. O encontro continua ressoando e deixa rastros de um novo modo de nos vincularmos no ativismo e no ambiente político, onde também é permitida a ternura, a vulnerabilidade, a emoção e a espiritualidade. Surgiram sementes que trarão novos vínculos, formas de estar e de ativar, em contato com a energia e a disponibilidade para continuar participando.