Entre os dias 11 e 13 de outubro de 2024, tivemos a oportunidade de acompanhar, escutar e aprender com as mais de 80 mil mulheres e pessoas dissidentes de sexo e gênero que, apesar de uma profunda crise econômica, inundaram vigorosamente as ruas de San Salvador de Jujuy, estado localizado ao norte da Argentina, durante o 37° Encontro Plurinacional de Mulheres, Lésbicas, Trans, Travestis, Bissexuais, Intersexuais e Não Bináries.
Nós do FAU-LAC vivemos este momento como um lembrete de que os movimentos feministas têm a força para resistir e combater contextos muito adversos. São os movimentos, redes e coletivos que estão fazendo frente à chegada da extrema direita ao poder. Um governo fascista instaurado com a ascensão de Milei em dezembro de 2023 e que teve como primeiras medidas o fechamento do Ministério de Mulheres, Gênero e Diversidade.
Nesta ocasião, o encontro ocorreu em Jujuy, um estado onde está a resistência contra a expropriação dos recursos naturais e contra o extrativismo. A principal razão para a decisão do lugar foi o "jujeñazo", uma mobilização que começou em junho de 2023, com a reivindicação de um aumento salarial para a categoria docente e que posteriormente levou o povo jujenho às ruas para se opor à reforma constitucional. Afinal, ela representava um retrocesso no reconhecimento de direitos, na autodeterminação e na participação dos povos em toda questão relativa aos seus territórios.
Além da luta do povo contra o extrativismo, o encontro, como nos contou a comissão organizadora, acompanhou a demanda de justiça pelos feminicídios na região. Em 2023, companheiras feministas conseguiram condenações para os feminicidas de Marina Patagua, Lara, Rueda, Camila Peñalba, Alejandra Álvarez, Petania Palacios e Gabriela Cruz, mas a violência feminicida continua presente.
As pessoas da nossa equipe que viajaram ao encontro tiveram a oportunidade de participar, a partir da escuta ativa, em algumas das 103 oficinas que foram realizadas e estavam distribuídas em 16 eixos temáticos como: Ativismos e organização; Nações, povos indígenas e seus territórios; Educação, ciência e técnica; entre outros. O objetivo desses espaços coletivos foi articular planos de ação conjunta em torno das preocupações comuns.
As discussões estiveram principalmente atravessadas pelos discursos de ódio, a fome e a violência que milhões de pessoas sofrem no país. Isso nos permitiu conhecer as estratégias que estão sendo realizadas pelos movimentos feministas para enfrentar este momento e, desta forma, fazer as reflexões necessárias para continuar fornecendo uma resposta às crises.
Entre ruas, escolas, salas de aula da universidade, praças e restaurantes, foi acesa mais uma vez a chama feminista argentina que inspirou Abya Yala. “Se cuida, se cuida, se cuida seu fascista, a América Latina vai ser toda feminista”, foi um dos cantos que mais ouvimos durante a marcha na qual participamos junto a coletivas que conseguimos apoiar e que, como todos os anos, garantiram a participação de várias de suas integrantes de maneira segura e cuidadosa.
Queremos agradecer por toda a inspiração e esperança proporcionadas pelas pessoas que se mobilizaram, compartilharam as suas experiências, debateram e traçaram estratégias coletivas para enfrentar o avanço da extrema direita. O movimento transfeminista da Argentina nos lembrou com raiva e alegria que seguirá em pé de luta.