Especial mulheres indígenas e territórios diante do desgoverno em tempos de pandemia

12 Agosto 2020

Em 2020, a pandemia da Covid-19 gerou uma crise em diferentes âmbitos da vida, com impactos especiais na vida das comunidades tradicionais. Na América Latina, essa crise tem revelado e aprofundado desigualdades sociais históricas, atravessadas por raça, classe, gênero, orientação sexual, idade, deficiência etc. A pandemia e as respostas dos governos frente a ela trouxeram maiores consequências às populações que já enfrentavam discriminações e violências estruturais, além da precarização nos serviços de saúde, educação, empregos formais e acesso a redes de informação. Essa situação afetou ainda mais gravemente as comunidades rurais produtoras de alimentos que, por depender em grande parte da economia informal, viram sua renda e possibilidades de sustento comunitário serem colocadas em risco. O que se soma ao crescente risco de contagio devido à continuidade das atividades extrativistas nos seus territórios durante a quarentena.

Atualmente na Região, o vírus está em uma fase de internalização, alcançando muitas comunidades rurais e territórios distantes das grandes cidades. Neste contexto, os povos indígenas estão sendo os mais afetados pela pandemia. Sobre isso, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), por meio da “Resolução Pandemia e Direitos Humanos nas Américas”, reconhece os povos indígenas como “grupos em situação de especial vulnerabilidade”. Ainda que a pandemia tenha tido um desenvolvimento particular em cada país, a situação nas aldeias manifesta semelhanças regionais, onde se constata a falta de resposta efetiva por parte dos governos para garantir os direitos e a proteção efetiva dos povos indígenas diante da expansão do vírus.

Contudo, a Covid-19 não é a primeira pandemia que os povos indígenas enfrentam, muito menos a primeira crise que afeta seus corpos, suas vidas e sua sobrevivência física e cultural. As comunidades mantiveram e construíram seus modos de vida e permanência com base em conhecimentos ancestrais e adaptações coletivas ao contexto global e local, desde as primeiras invasões aos seus territórios há mais de 500 anos. Por isso, para o FAU-AL é um compromisso político e ético crucial nesses tempos, denunciar a situação que tem sido vivida em territórios indígenas, a partir das vozes das próprias mulheres defensoras destes territórios.

Para contar essas histórias, nos juntamos a dois meios de comunicação feministas com uma linha editorial a partir de, e voltado para o Sul: La Ruda, na Guatemala, a primeira revista digital dedicada exclusivamente aos relatos de mulheres defensoras dos territórios da Abya Yala e AZmina, no Brasil, que através de sua revista e app, misturam o jornalismo, a tecnologia e a informações verazes para lutar contra o machismo. Ambos meios se encarregaram de se aprofundar nos contextos das comunidades indígenas que acompanhamos a partir do Fundo de Ação Urgente para a América Latina e, por sua vez, unir esses relatos com os de mulheres de outros territórios próximos de suas experiências ativistas. Juntas criamos duas reportagens que entrelaçam as vivências atuais de mulheres indígenas em seis países da América Latina.

Ainda que muitos povos indígenas não contem com o apoio estatal necessário para enfrentar a pandemia, através do autogoverno as protagonistas dessas histórias e suas comunidades se organizam para garantir o sustento da vida a partir do cuidado coletivo, dos seus saberes ancestrais e da solidariedade entre os povos e as pessoas. Os povos indígenas continuam em permanente resistência para que sua vida, seus territórios e seus direitos sejam garantidos pelos Estados.

Como Fundo feminista regional de Ação Urgente, nossa missão é contribuir para a sustentabilidade e o fortalecimento dos movimentos de mulheres e feministas, apoiando as resistências e demandas das defensoras e ativistas na transformação de sistemas de injustiça e desigualdade. Por isso, buscamos com essa iniciativa jornalística visibilizar a atual resistência das guardiãs da vida e apoiar suas ações transformadoras, que permitem a sobrevivência de seus povos e da memória viva das suas mais velhas e dos seus mais velhos. Da mesma maneira, queremos fortalecer suas vozes de denúncia diante dos governos, para que as medidas necessárias de proteção e mitigação da pandemia sejam respeitosas aos seus direitos, práticas e cosmovisões.

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