Eleanor Douglas nasceu em Winnipeg, uma cidade fria e pequena no oeste do Canadá. Aos 21 anos decidiu empreender uma viagem terrestre em busca dos mistérios da América Latina. Sem muito dinheiro e de carona em carona, ela chegou ao Panamá por terra e depois de barco até a Colômbia.
Eleanor nunca imaginou que essa parada traria uma mudança definitiva para sua vida e, em vez de alguns meses, permaneceu por mais de 40 anos em Bogotá. Ela começou como professora de inglês e, quando sua estadia na Colômbia deveria terminar, ela percebeu que tinha sua alma entregue a este país. Ela se apaixonou pela revolução e pelo poder coletivo dxs estudantxs nos anos 70, viveu como se fossem suas as causas do povo colombiano e se juntou ao grupo daquelxs que decidiram que mudariam o mundo.
Nesses movimentos, ela descobriu sua paixão pela defesa dos direitos humanos e especialmente pelos direitos das mulheres, bem como sua habilidade de construir vínculos profundos com mulheres poderosas em vários países da Região para lutar contra o patriarcado e contribuir para a paz.
Ela trabalhou pelos direitos de todas e viajou para muitos países para levar as vozes do sul para espaços onde antes elas não tinham espaço. Essas experiências levaram-na a fazer parte do Conselho de Diretoras do Fundo de Ação Urgente UAF-WHR (por sua sigla em inglês) com sede principal nos Estados Unidos. E um dia, conspirando com suas amigas e colegas do UAF para mudar o mundo, no calor de uma xícara de café surgiu a ideia de trazer esse modelo único de financiamento para a América Latina, o continente no qual Eleanor tinha seu coração. Porque ela sempre encorajou discussões sobre Fundos de Ação Urgente mais perto dos contextos regionais.
Em 2009, em Bogotá na Colômbia, foi estabelecida a sede do Fundo de Ação Urgente para a América Latina e Caribe (FAU-AL). O único fundo que, além dos Apoios de Resposta Rápida, teve a iniciativa de construir, juntamente com as defensoras, reflexões e práticas em torno do CUIDADO. Como Eleanor nos diz: no começo não foi fácil, era uma pequena equipe operacional para estabelecer todas as bases legais e infra-estrutura bancária. No entanto, a vontade política dessas mulheres e a liderança de Eleanor tornaram a FAU-AL uma realidade.
O primeiro Conselho de Diretoras também refletiu o espírito viajante e revolucionário de Eleanor, já que desde sua criação foram convocadas mulheres de vários países e diferentes áreas de pensamento e experiências. Elas, jovens, negras, lésbicas, da cidade e do campo, indígenas e mestiças latino-americanas também apoiaram através do Conselho de Diretoras a proposta de um Fundo que falava sobre o cuidado e ajudaram a enraizar essas reflexões em nosso continente. Por exemplo, foram usados termos próprios para se referir ao esgotamento de ativistas e suas estratégias de cuidado coletivo, tornando a linguagem uma questão política. Começaram a circular convites ao Ativismo Sustentável em vários países da Região e as práticas de poder em cada país foram revisadas em cada encontro que o FAU convocava.
Esse convite também foi feito em sua vida, uma amostra disso foi como Eleanor, a partir do momento em que assumiu a Direção do Fundo, deixou claro para sua equipe que só ficaria lá por três anos enquanto as bases se consolidavam e em 2012 fechou seu período por lá e alegremente passou a tocha para uma grande líder equatoriana. Mas esta é outra história…
Eleanor "la mona", como algumas pessoas a conhecem, aos 75 anos continua com o mesmo sorriso caloroso para falar sobre a esperança. Esta mulher canadense de coração colombiano - de qualquer lugar que ocupa - ainda segue se responsabilizando por fazer revoluções cotidianas em favor dos direitos humanos das mulheres. É por isso que hoje honramos sua vida, sua semente, sua jornada e suas reflexões, porque tornaram possível um Fundo, que agora tem 10 anos.
Obrigado, Mara Parra, pela ilustração!